Um monte de sujeitos, com um monte de ideias, botando a boca no mundo e sendo seus próprios predicados.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vamos brincar?

Tinha chamado, no texto abaixo, tudo o que aconteceu em referência à greve de "Ato" e dividido em cenas porque desde o princípio considero todas as posições excessivamente teatrais.

Não me enganei. Mais: tive a certeza do meu achismo com a comprovação de Eugenio Bucci, em sala, de que "não são idéias que mobilizam a greve na USP, e sim a imagem da polícia militar com as bombas no campus". É o espetáculo. Mais puro exemplo de espetáculo. A greve tomou as proporções atuais após a inadmissível cena do último dia 09. Construída inaceitavelmente por aquela que diz representar funcionários, docentes e alunos da comunidade: a reitora.

Se antes ideologias moviam os estudantes em prol de uma real melhoria em relação não só ao ensino público, mas à sociedade; agora, o que vejo são forças divididas, cegas e ultrapassadas. O que vejo é apenas a falsa tentativa de participação para mostrar que se está fazendo política. Ou melhor, que se está tentando fazer alguma coisa. Reitero: falsa tentativa.

A maior prova de que o importante é, simplesmente, "agir" está nos discursos em que se consideram "omissos" aqueles que mantiveram sua rotina (apesar de estarem igualmente pensando sobre a greve em sua maior parte do tempo). Parece que temos sempre que nos mostrar atentos e disponíveis as mais diversas causas - não importa a reflexão, importa fazer. Importa mostrar que fez. Absurdo é se manter, aparentemente, quieto. Isso não é só agora, não. É com tudo. E reclamam do tal "sistema", mas jogam exatamente o jogo dele: "exigir, não pensar, fazer, fazer, fazer, não importa o quê, mas faça! E seja feliz, óbvio. Sempre feliz!".

O problema é que com essa ânsia do agir, mal se pensa. Quero dizer, claro que se pensa - mas não se discute. E não digo tentar promover diálogo em classes, grupos de e-mail ou afim, digo dar importância àqueles que até agora a única coisa que fizeram foi "discutir".

Alguns dizem "sim, temos que dialogar", e são estes mesmos que se mostram impacientes quando são contra-argumentados. Ninguém gosta de perder - muito menos no que se trata de opiniões - mas se for para promover o diálogo o mínimo que tem que ser feito é ouvir.

Sem alguém que discorde não há discussão. O que vejo é que o diálogo que buscam apenas é válido quando feito por auto-afirmações. Argumentos contrários levam à impaciência, à irritação. E se assim são levados, é porque não podem ser melhor rebatidos, é porque está se vendo uma perda no fim do jogo.

De teatro, isso daqui passou para um jogo. As regras não são claras - e muito menos seria um risco dizer que elas existem. O mínimo necessário é o respeito.

Se entramos aqui para discutir, que discutamos e sejamos ouvidos. Se é para brincar, então vamos lá. De quem é a vez?

terça-feira, 9 de junho de 2009

Primeiro Ato - A Greve


"Isso daí não é uma Universidade! É uma balbúrdia!"

Bal.búr.dia sf 1. Grande desordem 2. Gritaria, confusão

Cena 1, vista do helicóptero: policiais, enfileirados, bloqueiam a passagem da rua da Reitoria. Ao verem a aproximação de manifestantes, soltam gás lacrimogênio - bombas de efeito moral.

Cena 2: o motorista do trio-elétrico do Sintusp, se é que assim pode ser dito, é puxado para fora da cabine pelos policiais. À força.


"Vocês vão pra cima da policia e vão levar pau mesmo!"

Le.var pau v 1. Ser reprovado 2.Ser agredido 3.Se sair mal em alguma situação, ter problemas, se dar mal

Cena 3: vários estudantes passam o último mês recebendo panfletos sobre Univesp, são convocados para assembléias, ouvem músicas vindas do Sintusp, discutem em grupos de e-mail, não discutem em horas livres, decidem falar sobre o JUCA (PM no alojas?!) a falar da greve. Não comem no bandejão, fazem exercício caminhando o caminho antes feito pelo circular, não conseguem solucionar problemas na Graduação. Têm aulas normalmente, provas adiadas, trabalhos por fazer. Vão para o JUCA e ouvem das bocas alheias: "para um pouquinho, descansa um pouquinho, a USP só entra em greve", ou algo do gênero.


"Vão sentar e discutir com o governador - cara a cara - eu tenho certeza que ele vai escutar..."

Cena 4: os representantes discentes são impedidos de participar da reunião que sempre participam com orgãos como a Reitoria. Alguns decidem invadir o prédio. Quebram portas, impedem a saída dos funcionários. Funcionários e professores discordam da ação dos alunos. Os próprios alunos discordam da ação de alguns deles. O Movimento Estudantil se vê dividido, fragmentado, perdido. Massa de manobra? Não, queremos o fim da Univesp! Queremos o aumento do repasse de verbas para as universidades estaduais - mais: queremos um aumento de verbas para a educação como um todo! Queremos diretas para reitor, somos contra a atual reforma do estatuto da USP, queremos uma auditoria das fundações - com acompanhamento de estudantes e funcionários! Queremos um aumento do valor das bolsas de permanência estudantil!

Cena 5: A Polícia Militar entra no campus para garantir que uma liminar seja cumprida. O direito de ir e vir. Queremos a PM fora do campus!

Cena 6: Em Assembleia feita nesta segunda-feira, dia 08 de junho, a maioria decide que a ECA não entrará em greve. As artes votam pelo contrário. Estão em greve.


"Comunicação: vocês se comunicam?"

Quem se comunica aqui se nem os alunos de uma Escola conseguem decidir por um acordo de adesão ou não da greve? Se nem os ecanos conseguem entrar em um consenso para os termos básicos, se quando se aprova algo, os insatisfeitos passam a ditar suas próprias regras?

Regras? Não há regras. Somos tão democráticos que todos têm direito a fala. Direito a ser ouvido? Espera aí. Você já está pedindo demais! Essa é outra história. Mais complicada e certamente difícil de se alcançar.

Discursos, falas intermináveis, redundantes. Dizem a mesma coisa. Discordam. Discordam, não falam. Fingem que falam. Falei? Falei nada, fingi que falei e você fingiu que leu para depois discordar.

Discorde. É do seu direito.

Só não me venha chamar a polícia porque senão isso daqui vira uma balbúrdia!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sobre outras posturas

Não acredito que para ser um aluno de universidade pública eu deva participar de assembleias de um movimento estudantil fechado (como foi provado hoje, quando uma bixete tentou colocar um diferente método de votação e não foi bem recebida, visto que o novo método contrariava algumas das convicções dos presentes) que não valoriza o debate, e que após uma votação, democrática, não aceita o resultado, já que os demais votantes não são frenquentadores da mesma assembleia que é apenas receptiva aos que compartilham um certo ponto de vista e uma visão política.

Acredito que eu, que procurei de muitas formas me informar sobre todos assuntos em debate, e vi diversos pontos de vista diferentes expostos, estou informado o suficiente para me colocar criticamente adiante de um assunto desta magnitude. Não acredito que o que me define como capaz ou não de assumir tal posição seja a minha presença ou a falta dela nos ditos debates.

O debate, de fato, ocorre em um espaço e acompanhado de pessoas que ouvem e refletem sobre o assunto em pauta, deixado serem tocadas por pontos e pensamentos diferentes dos seus, nestes lugares, sim, debato com muito gosto. De outros prefiro me abster e isso não me faz menos estudante de uma Universidade, ou crítico do que ninguém.



Ps: Encaro este blog como um espaço de debate legítimo, por isso após ler o texto anterior me senti compelido a expor o meu ponto de vista neste breve post, visto que era dirigido aos outros Sujeitos que aqui predicam.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre posturas. (ou nota aos colegas)

Tive muitas ótimas aulas na última semana. Nenhuma na sala de aula.

Quer saber uma das lições?
Eu sou estudante não de uma universidade particular, mas de uma universidade pública. Quem paga minha mensalidade não é meu pai, mas todos os pais e mães e filhos brasileiros (ou paulistas). Assim sendo, eu não tenho a responsabilidade apenas com o meu pai ou comigo mesma, de formar-me, pegar um diploma, fazer carreira, grana, sucesso por aí. Eu tenho responsabilidades com todos os pais e mães e filhos que me pagam a universidade.

E eu tenho todo o direito de estudar e de ter minhas aulas com qualidade e segurança. Assim como os próximos que entrarem aqui também o terão. Mas é sim responsabilidade minha, agora, garantir que esses próximos tenham tudo a que eu tenho direito hoje, e não igual ao que eu tenho, mas melhor.

Aprendi (ou compreendi), entre muitas aulas geladas esta semana, como portar-me como aluna de universidade pública. E portar-me como aluna de universidade pública não significa necessariamente aderir sempre às greves ou concordar com tudo do movimento estudantil. Significa interessar-me e comprometer-me não só com o meu futuro, mas também com a sociedade e com o futuro da universidade. Porque eu, assim como todos os outros alunos, passarei e irei embora, mas as ações que tomamos enquanto estamos aqui modificam o que será esta universidade amanhã.

Não pretendo julgar quaisquer atos/pessoas. Mas esta é a minha postura, e agirei de acordo com ela.

domingo, 17 de maio de 2009

O cordel da hipocrisia

Era manhã de domingo na avenida São João e, frente ao palco da Virada Cultural, milhares de pessoas se espremiam em estado hobbesiano, na luta por um melhor lugar para assistir ao show do Cordel do Fogo Encantado, que começaria em uma hora. Nesse tempo a multidão se espremeu mais e mais. Ao custo do desencontro com uma amiga e muitas cotoveladas, consegui um considerável bom lugar.
O show ia pela terceira ou quarta música, a multidão pulava e cantava em uma euforia crescente. Quatro amigos, à minha frente, porém, não se sentiam confortáveis. O motivo? Ao lado deles estava um homem, provavelmente morador de rua, negro, descalço, sem camisa, de ressaca, dançando eufórico junto com a multidão. Esbarrava ocasionalmente nos amigos.
Ora, era uma multidão se acotovelando, havia contato corporal com as pessoas em volta o tempo todo (e bota contato nisso!). Mas os amigos resolveram pedir ajuda, afinal jovens da classe média têm o direito de assistir a um show da Virada sem preocupar-se com pessoas indesejáveis por perto, não?
Chamaram uma mulher da organização que estava na área reservada na frente do palco, reclamaram do homem. Ela o viu, disse aos amigos que ele não estava fazendo nada de mais ali. Os amigos insistiram, insistiram, e a mulher por fim chamou dois PMs.
Os PMs, por entre a multidão, gritaram ao homem. Este, pensando que o problema era ele se encontrar sem camisa, vestiu-a. Ora, o problema não era a camisa, mas sua presença ali! Que direito tinha ele de assistir a um show aberto no centro de São Paulo, incomodando, com sua presença, os jovens de classe média que eram a maioria daquela multidão? Que direito tem ele à cultura, afinal?
Os PMs disseram aos amigos, não tinham nada que fazer ali, e se foram. O homem logo mais se foi também, sentindo o peso dos olhares de desprezo dos que estavam em volta.
Os amigos, finalmente confortáveis, entregaram-se ao show. Cantavam, com euforia e emoção, com seus descolados óculos escuros, a música cuja letra falava do dia a dia de um cortador de cana. Cantavam com euforia e emoção, como se conhecessem na pele o duro dia a dia de um dos mais sacrificados trabalhadores de nossa sociedade...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cotas raciais

No último domingo, o programa Canal Livre da Band, promoveu uma discussão sobre “cotas raciais nas universidades”. Como convidados foram o sociólogo Demétrio Magnoli e o integrante da ONG Educafro Frei Davi. O defensor das faladas cotas era o Frei. (Quase que inocentemente cometi o erro de dizer que o defensor era obviamente o Frei, devido à sua participação na ONG ou algo do tipo, porém após um breve segundo de pensamento, o que se fez óbvio foi que não é porque uma ONG apóia movimentos negros em busca de igualdade, necessariamente apoiaria uma iniciativa como esta das cotas.)

O Frei utilizava como justificativa para a adoção de cotas raciais, uma certa indenização pelos anos e anos em que os negros foram submetidos à escravidão no Brasil, que após abolida, não foram de nenhuma forma indenizados e nem foram alvo de políticas de inserção dos mesmos na sociedade. É difícil discordar que em parte ele está certo, obviamente, se uma política de adaptação houvesse sido adotada após os anos de escravidão, e os negros tivessem recebido ajuda para conseguir empregos e terras para trabalho, certamente a situação social brasileira seria, e em muito, diferente da lamentável na qual nos encontramos.

No entanto, nos vemos em situação difícil, como dizer aos jovens garotos, que após uma análise, são considerados não-negros, portanto não beneficiados por um sistema de cotas racista – uma vez que é baseado em raças, é racista. Quando questionado sobre como este sistema é social, uma vez que crianças pobres não-negras não seriam beneficiadas, enquanto que um jovem negro de uma família que tem uma renda mensal de 20 salários mínimos seria, sim, beneficiado, Frei parecia sempre recorrer aos anos e anos de escravidão e à sociedade desigual na qual vivemos.

Acredito que seja no mínimo questionável esta atitude de, cada vez mais, inserir na mente de jovens que existe tal distinção entre as raças e beneficiar apenas uma em detrimento da outra, sendo que as duas necessitam da mesma ajuda, caso pensemos socialmente a questão.

O sociólogo comentou a lei de cotas existente na Nigéria. A Nigéria é formada por inúmeras etnias, as cotas são dadas, nos diferentes estados, à etnia com maior população no local. Imagine, com isso a maior parte da população passa a apoiar o partido político que tomou tal iniciativa, com a maior parte da população de cada estado, já sabemos o que acontece em uma eleição, certamente um efeito nunca imaginado pelos políticos.

Ironicamente, ao ser entrevistado, o Ministro da Secretaria da Igualdade Racial, Edson Santos, ex-deputado pelo PT do Rio de Janeiro, disse que as cotas raciais são sociais, visto que o método seria o seguinte. Metade das vagas seria separada para alunos de colégios públicos (certamente esta é a parte social), dentro desta metade fazemos a seguinte análise, caso 70% da população local seja negra, 70% desta metade de vagas será exclusivamente destinada a negros. Não importa se os alunos negros e não-negros se encontram na mesma situação social, se passam pelas mesmas necessidades, se os pais de ambas famílias sofrem do mesmo modo para botar comida na mesa. É inacreditável e, certamente inesperada, a semelhança com o método anteriormente comentado, não? E sim, escrevi corretamente, a secretaria é de IGUALDADE racial.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Peixes Pássaros Pessoas




Sempre que leio a crítica de um novo cd ou de um artista que desponta no cenário musical, fico com a ligeira impressão de que o autor do texto preocupa-se exageradamente em encontrar defeitos e imperfeições no trabalho analisado. Sem falar no apego ao léxico técnico que impossibilita a compreensão do ouvinte leigo e parece simplificar a discussão da música, que apesar de ter sua técnica, é uma arte e, portanto, abarca questões subjetivas imensuráveis. Prefiro entender o crítico de música como o sujeito que busca novas referências e que possa dirigir nossa atenção aos detalhes que poderiam nos passar desapercebidos.

Esse texto não pretende ser uma crítica de música, mas é que hoje escutei o mais recente álbum da cantora Mariana Aydar,Peixes Pássaros Pessoas,, e como há tempos não passo por aqui, decidi escrever sobre minhas primeiras impressões.

A última década tem sido extremamente generosa pela aparição de novas e boas cantoras nacionais dentre as quais podemos citar Teresa Cristina, Maria Rita, Mônica Salmaso, Roberta Sá, Céu, Marina de la Riva e Ana Cañas. Mariana Aydar foi, então, uma das que com mais intensidade utilizou-se da sonoridade do samba e o utilizou sob uma roupagem nova. De forma muito segura Mariana apresentava em seu primeiro trabalho, Kavita 1 (2006), um samba de certa forma despreocupado e único por ser cheio de um sincretismo sonoro.

Em seu segundo cd um cavaco, o violão marcante e a flauta logo na primeira canção parecem tirar a dúvida sobre a permanência do samba, ou qualquer uma de suas variações, no trabalho da paulista. O ritmo logo dá espaço às baladas nas seguintes faixas do álbum. O xote, também explorado no cd anterior, encontra lugar em "Bandas de lá" e na alegre "Ta?". "Palavras não falam" acrescenta um novo toque caribenho. Mariana que já havia feito regravações de João Nogueira, Chico César, João Donato e uma inimaginável versão de "Deixe o verão", dos Los Hermanos, agora faz sua leitura de "Peixes", orignal da gaúcha Darma Lóvers.

A produção do disco segue a alta competência do cd anterior, com ricos arranjos e uma variação de instrumentos e timbres invejável. E pra voltar a falar de samba, o novo álbum conta com samba-canção, samba-enredo e um partido alto com a participação de Zeca Pagodinho. A voz é a mesma afinação que antes, mas ainda mais segura e consciente.

Destaques:

Palavras não falam

Manhã azul

Poderoso rei

Tudo que trago no bolso

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Nações e Políticas

"The media tend to attribute Gaza's decline solely to Israeli military and economic actions against Hamas. But such a myopic analysis ignores the problem's root cause: 60 years of Arab policy aimed at cementing the Palestinian people's status as stateless refugees in order to use their suffering as a weapon against Israel.
Arabs claim they love the Palestinian people, but they seem more interested in sacrificing them. If they really loved their Palestinian brethren, they'd pressure Hamas to stop firing missiles at Israel. In the longer term, the Arab world must end the Palestinians' refugee status and thereby their desire to harm Israel. It's time for the 22 Arab countries to open their borders and absorb the Palestinians of Gaza who wish to start a new life. It is time for the Arab world to truly help the Palestinians, not use them".

Nonie Darwish, "An arab-made misery", The Wall Street Journal Europe.

No mínimo, esse é um ponto de vista diferente. E bastante válido, é claro. Afinal, é fato que descendentes de palestinos não podem tirar passaporte nos países árabes mesmo tendo nascido neles ou mesmo sendo casados com alguém de um desses países; ao contrário, eles são obrigados a receber o eterno "título" de palestino refugiado. É como um fardo imposto por todo o mundo árabe: os palestinos têm que se manter como palestinos sofredores para que continuem a servir de motivo para a guerra eterna contra Israel e contra os Estados Unidos.
Não acho, porém, que as coisas são tão simples assim como a autora de tal artigo acha. A política árabe não é a origem e a causadora da miséria palestina, mas sim uma consequência desta; de uma situação já existente e de um posicionamente que, a princípio, pode ter sido genuíno, muitos interesses afloraram e se mantiveram às custas dos refugiados de Gaza. E sim, deveria haver uma pressão local para que o grupo Hamas parasse com seus atentados terroristas - até porque as vítimas diretas e indiretas desses atentados não são apenas israelenses, mas também palestinos. Mas acreditar que a paz da região apenas depende das ações do Hamas é ser, no mínimo, ingênua. É ignorar os últimos 60 anos de história árabe-israelense, é ignorar todas as guerras e ações militares lideradas por Israel.
E tudo bem defender a livre saída de palestinos da faixa de Gaza; afinal, eles estão em inúmeros campos de refugiados e em cidades presas naquele velho processo de destruição-reconstrução, ainda cercados por soldados e pretensas muralhas israelenses. E se eles quiserem ir para as nações árabes, que vão - e que, de preferência, sejam recebidos como cidadãos, e não como eternos refugiados. Ou, se forem recebidos como refugiados, que tenham todos os direitos que pessoas nessa condição devem ter...
Mas há palestinos que não querem ir embora de suas terras, aqueles que há gerações estão ali, que enxergam naquela estreita faixa de terra a sua casa. E Nonie Darwish não fala em um só instante desses moradores, fala apenas daqueles que querem partir. Talvez ela própria, que partiu de Gaza ainda criança, veja apenas sob esse ponto de vista. Mas há, de fato, os que querem ficar, e para esses, não é apenas o Hamas o grande perpetrador da violência e não é a política árabe a mais poderosa e a única política a se envolver na região e a causar danos perturbadores. Não, as coisas não são tão unilaterais assim. E não acho que Israel deve ocupar um papel tão não-significativo quanto ocupa em sua análise. Israel não deixa de ser vítima nessa situação toda -assim como Gaza também é -, mas também não deixa de ser culpado.

Democratização Informacional (?)

"Qualquer pessoa pode assistir a um vídeo no YouTube". Partindo deste pressuposto, o fenômeno do compartilhamento de arquivos em vídeo fez o que muitos chamaram de 'revolução': estava aberto um canal nunca antes visto (ou, pelo menos, facilmente utilizável) de divulgação dos mais diversos tipos de produções - desde vídeos musicais, trailers ou qualquer coisa que se possa gravar. Era a hora de publicar aquela sua coisa tosca guardada há séculos e feita em uma tarde de tédio e transformá-la em hit da web. Ou, de dar um upload em seus esquetes cômicos e fazer do seu espetáculo o canal de humor mais visto do site.

Com propósito diferente, mas resultado parecido, já havia online o site Myspace. Apesar de ter como objetivo a criação de uma rede de amigos, através da qual poderiam-se trocar imagens ou mensagens, foi com a música que ele se destacou. Alavancando muitas bandas, o site tornou-se meio de divulgação para conjuntos iniciantes muitos dos quais, posteriormente, também vieram a ser fenômenos.

Vídeo e músicas. Duas plataformas que encontraram nestes sites o acolhimento digno de uma mãe. Um, permite você expor seus vídeos. Outro, suas músicas, oras. E onde ficam os textos? Nos blogs?

Evidente. Se disserem que, inevitavelmente, as palavras são a base de qualquer meio, a possibilidade de postar suas palavras livrementes em blogs seriam a base para todo ideário de compartilhamento de informação. Mas e os livros?

Eis que surgiram os tais de e-books. E bibliotecas virtuais, como esta, esta ou esta. Mas não somos todos Machado para cairmos nas graças de uma biblioteca. Pelo menos, ainda não. Aliás, mesmos autores comparáveis (se é que isso pode ser dito) sentem-se sufocados pelo mercado editorial, que vem se estreitando - e não por menos, eles passam a buscar outros meios de divulgação de seu material.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao NeoReader, onde você será recebido pela frase um tanto quanto suculenta - e até megalomaníaca, porque todos no fundo no fundo o somos - "publique seus arquivos e acesse de qualquer lugar do mundo". Qualquer lugar do mundo. Ele disse qualquer.

Mais do que uma biblioteca, ele aparece para preencher a lacuna entre o público e o não-publicado - ou o publicado em menores dimensões. Revistas, folhetos, convites, manuais, guias ortográficos com as novas regras gramaticais, apostilas (inclusive de latim), teses, crônicas.

Enfim, em suas próprias palavras, o site seria "Um portal para publicação de arquivos que tem o objetivo de democratizar a informação na internet de uma forma inovadora, sempre priorizando a qualidade de conteúdo. Você pode fazer upload dos seus conteúdos em Word, Excell, Powerpoint, PDF." E então que ele me pinica mais ainda (porque já me pinicava ao dizer que o acesso era feito em "qualquer lugar do mundo").

Democratização da informação. Esse é o conceito atribuído, principalmente, ao advento da Internet e à alta capacidade de imersão deste meio na vida de qualquer mero mortal. Ok. Temos o Youtube "democratizando" os vídeos. O Myspace, a música. E o NewReader, os livros.

Mas será mesmo? A partir do momento em que se está frente a um computador com conexão à rede, temos um mundo de possibilidades. Justo. Mas quantos são aqueles que conseguem adentrá-lo?

Quantos conseguem ler um texto e compreendê-lo? Quantos têm computador em casa e mais - com acesso à Internet (sendo que isso apenas não basta: há de ser banda larga)?

Será mesmo que um site pode servir-se do termo "democratização"? Será que apenas com isso ele faz seu papel democrático?

Só para se ter uma idéia, dados de 2005 do IBGE (ok, desatualizados, se formos comparar à velocidade que tantos dizem das mudanças de hoje em dia) mostram que a cidade de maior acesso à Internet, Curitiba, apresenta 34,9% de sua população conectada. Em São Paulo diminuía-se apenas 1 ponto percentual: 33,9%. Quer saber no Alagoas? 7,6% da população. Seguido por Maranhão (7,7%), Piauí (10,4%), Amazonas (10,5%) e Pará (10,9%).

Quantos alagoanos, maranhenses, piauienses, amazonenses e paraenses será que postam vídeos no Youtube, tocam para o Myspace e lêem livros no NewReader?

Quantos deles lerão isto daqui?

terça-feira, 7 de abril de 2009

Jornalismo no Mercadão

Sol no alto do céu. O domingo deixa as ruas do centro mais vazias, mas ainda movimentadas. É domingo de ramos mesmo na capital paulista, algo que surpreende quem é do interior, achando que a cidade não tem essas tradições. É dia de visitar o Mercado Municipal e encontrar não só o melhor sanduíche de mortadela da cidade, mas também alguns dos maiores nomes do jornalismo brasileiro.

Flávio Carrança, Audálio Dantas, José Hamilton Ribeiro, Ricardo Kotcho, Iva Oliveira e Lucius de Mello: todos juntos para mostrar seu trabalho e discutir sobre a profissão de jornalista. No público, rostos jovens, bloquinhos e canetas em mãos. Estudantes em busca de um pouco de conhecimento de pessoas com grande vivência.

E o que podemos dizer sobre o jornalismo? "Jornalismo é contar uma história de um jeito que as pessoas queiram saber. É a melhor profissão do mundo", decretou Ricardo Kotscho.

José Hamilton Ribeiro chegou quando todos já estavam à mesa. Lucius de Mello falava, mas teve que parar: uma onda de aplausos pairou a sala para saudar o jornalista, que também falou sobre a profissão. Ele citou os jornalistas franceses: "jornalismo é a melhor profissão do mundo para se sair a tempo". Também citou um jornalista italiano, perguntado sobre a profissão: "Jornalismo é bom sim. É até melhor do que trabalhar".

Ninguém disse que é uma profissão fácil. "Jornalismo exige muito esforço para quem quer fazer direito. Exige compromissos daquilo que se ouve com aquilo que se escreve", descreveu, com precisão, Audálio Dantas.

A importância do jornalismo vai além do simples relato da vida. Ele faz parte da memória e da história de uma sociedade. O jornalista e agora escritor ainda citou Gabriel Garcia Marquez: "a vida não é o que você viveu, mas aquilo que você se recorda".

Características de um bom jornalista envolvem curiosidade. "Jornalistas são seres que perguntam", citou Lucius de Mello. Ele emendou com uma citação de Clarice Lispector, quando foi perguntada quem era ela: "Eu sou uma pergunta", ela respondeu.

Os problemas que são enfrentados pela profissão também foram tocados. Como fazer um bom jornalismo? Apuração e trabalho de campo foram citados. "Ainda sou jornalista de rua, e me orgulho disso", disse Iva Oliveira.

Lucius de Mello fez uma nova citação, tentando mostrar a gravidade da stuação atual: "o ficcionista fala mais a verdade do que o jornalista, como Saramago já disse".

Assessoria e jornalismo são parte da mesma profissão? Para Kotscho, são. Um assessor, para ele, continua sendo jornalista, mas exercendo uma outra função. "É a pessoa que faz a função".

Mas o jornalista fez uma ressalva sobre o assunto. Para ele, não é possível um jornalista trabalhar em uma redação e como assessor de imprensa ao mesmo tempo. Enquanto se exerce uma função, não se pode exercer a outra.

A formação dos jornalistas foi outro assunto citado. Uma aluna da ECA (ei, companheira) fez críticas duras ao curso, dizendo que deixa a desejar e não é estimulante. Os debatedores citaram suas experiências profissionais como parte fundamental no processo de aprendizado.

"A escola não faz o jornalista", citou Kotscho. O jornalista contou que saiu da ECA na primeira turma e quando voltou, já como professor, encontrou uma situação parecida com a que tinha deixado.

É importante dizer, porém, que a ECA é uma escola de referência. A estrutura é suficiente, inclusive quanto a equipamentos. Há excelentes professores e outros de qualidade duvidosa. O curso, em si, tem sido uma boa experiência (acho que falo por todos os autores aqui).

A Internet foi outro assunto da conversa. "O jornalismo está em um momento de transição, depois do petardo que tomou da Internet", contou José Hamiltom Ribeiro. Os outros debatedores falaram sobre a importância da Internet como meio de comunicação.

Para terminar o encontro, um contador de histórias, com chapéu e sotaque do interior, alegrou a platéia com "causos quase reais", como ele mesmo disse.

O evento terminou com champanhe, e já com o mercadão de portas fechadas ao público. Restava o domingo de sol e uma tarde pela frente.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Vira da Outra Vez

Daqui a três semanas São Paulo ficará desperta, novamente, por 24 horas. Inspirado nas "noites brancas" parisienses, a Virada Cultural voltará com a efervescência explícita sobre a cidade nos dias 02 e 03 de maio.

Desde 2005, o evento, que ocorre anualmente e é promovido pela Secretaria Municipal de Cultura e co-realizado pela São Paulo Turismo, Secretaria Municipal de Educação, SESC-SP e Secretaria de Estado da Cultura, tem atraído cada vez maior quantidade de público.

E não é só de paulistanos de que vivem os espetáculos. Em 2007, por exemplo, mais de 150 mil visitantes vieram para a cidade da garoa para participar da Virada.

Espalhados por São Paulo, vários palcos contemplarão a presença de diversos artistas e vários artistas contemplarão a presença de diversos afoitos por cultura.

O palco principal, da Avenida São João, que ano passado recebeu Gal Costa, Zé Ramalho, Mutantes, Orquestra Imperial, Jorge Ben Jor e outros, neste ano será pisado por, por exemplo, Jon Lord e Orquestra Sinfônica Municipal, Marcelo Camelo e Maria Rita - que provavelmente encerrará com o show de Samba Meu.

Ainda locais como Largo do Arouche, Praça da República, Av. Cásper Líbero - onde haverá samba-rock com Clube do Balanço, Trio Mocotó e Gafieira São Paulo -, Teatro Municipal (com Tom Zé, Fafá de Belém, Beto Guedes, Francis Hime, Chico César, entre outros) fervilharão com seus mais diversos shows.

Como homenagem a Raul Seixas, cuja morte já completa 20 anos, haverá um palco - sem local definido, ainda - de nome "Toca Raul". Nele, covers e convidados interpretarão a discografia do artista.

Vamoaê? Para depois, meter o bedelho em problemas estruturais e afins ou elogiar a bela iniciativa cultural e pedir para que todas as noites sejam, então, assim?

[mais sobre a Virada deste ano, você encontra no Catraca Livre]

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Abre-alas (ou abrealas?)

Ei-lo, caríssimo leitor, aqui está a "papa-fina". Começo este post de boas vindas saudando os meus companheiros de labuta. Para nós, aliás, não é labuta, é um voyagerismo. Piramo-nos quando as ideias não vem. As palavras parecem escapar as mãos, como o suor aos poros. Jubilamo-nos quando as palavras, uma a uma, vão se unindo numa confluência nunca antes experimentada. Qual será o impacto? Pensamos. A nós não cabe deduzir desta maneira imperativa. Nesta altura do campeonato a verborragia é bem vinda, execramos os muito comedidos e polidos.

Dialogando com o quadro, me sinto como Oswald formulando o Manifesto Pau Brasil. Como um matemático traçando diretrizes, um físico deduzindo fórmulas. Divago. Passo e creio que passamos, no plural, longe de tais figuras.

Não reprima seus olhos às linhas que se seguirão posteriores às minhas. Por vezes, muitas delas, entrarão em conflito declarado com algum hemisfério de seu cérebro. Pondere. Reflita. Mesmo nos hemisférios há o dia e a noite. Observe as dicotomias. Encontre a terceira via, se conseguir. Aponte.

Voo.

Saravá, caros amigos e caro leitor. Será uma experiência transcendental.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Jornalistas e Mortadela

Em 7 de abril de 1831 D. Pedro I abdicou do trono, em parte por causa de um movimento popular gerado pela morte de Líbero Badaró, jornalista assassinado por inimigos políticos. Na mesma data, em 1908, é fundada a Associação Brasileira de Imprensa.
Um século após a abdicação do imperador, a ABI institui o dia 7 de abril como o Dia Nacional do Jornalista.

Pois é, queridos, está chegando o nosso dia, se é que já podemos considerá-lo como "nosso", e um dos eventos em comemoração a esse dia ocorre um pouquinho antes, esse domingo, dia 5. É O Autor no Mercadão, realização da RENOME - Associação para a Revitalização do Mercado Paulistano em parceria com o projeto O Autor na Praça, da Praça Benedito Calixto.

Um encontro descontraído e informal entre jornalistas, escritores, cartunistas e público em geral, aproveitando-se das delícias e belezas do Mercadão, é esta a intenção dos organizadores. Às 14h os jornalistas convidados debaterão o jornalismo brasileiro hoje, com a participação livre do público e moderação de Guilherme Azevedo, editor do Jornalirismo. Quais são os desafios atuais da profissão, as oportunidades abertas pela revolução digital em curso, liberdade de imprensa, surgimento de novas vozes, necessidade de diálogo, como se forma o novo jornalista, etecéteras e tal.

Jornalistas Convidados:
José Hamilton Ribeiro (autor de O Repórter do Século, Grandes Reportagens e Música Caipira: as 270 melhores modas de todos os tempos)
Ricardo Kotscho (Do Golpe ao Planalto: Uma vida de Repórter, Uma vida nova e feliz...sem poder, sem cargo, sem carteira assinada, sem crachá)
Guilherme Azevedo (As Aventuras de Alencar Almeida)
Flávio Carrança (Espelho Infiel - O negro no jornalismo brasileiro)
Iva Oliveira (A força da Fé)
Lucius de Mello (Eny e o Grande Bordel Brasileirp, A Travessia da Terra Vermelha e Mestiços da Casa velha)
O cartunista Júnior Lopes participará realizando caricaturas do público.

O Autor no Mercadão
domingo, 5 de abril, a partir das 12h, no hall de entrada do mezanino do Mercado Municipal
Rua da Cantareira, 306, Centro



E como não dá pra pensar no Mercadão e não pensar em sanduíche de mortadela...




... eis aí o famoso sanduíche do Mortadela Brasil, localizado no mezanino do Mercado.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Maré punk

Não é de hoje que o espírito DIY toma conta dos dedos, mãos, recortes e aspirações das pessoas. A juventude, que sempre desponta e descobre as vanguardas, é o expoente do faça-você-mesmo desde o punk. Foi lá nos idos de 70 que, separados pelo Atlântico, jovens novaiorquinos pós-hippie-folk-rajneesh e a garotada londrina filha do operariado fizeram transgressão com as próprias mãos. Uns no CBGBs, outros na lojinha do Malcom Mclarem, cada qual com suas roupas rasgadas e cortes malfeitos; espetos e furos por todo o corpo; cabelos espalhafatosos. Mas a essa época ainda havia um mar de distância, felizmente ultrapassado por Ramones e Clash.

À esses anos, o mundo já era grande, embora a Terra desse sinais de ficar cada vez menor: a primeira transmissão de guerra pela TV (Vietnã), o primeiro homem a pisar na Lua, a bipolaridade EUA-URSS. Vêm a new wave, o Dead Kennedys, os quadrinhos do Watchmen, a Legião Urbana, a Perestroika, Collor, Nirvana e Clinton. Permeando os anos, tal qual uma costura rota, o espírito punk: fanzines, posters, hardcore, grunge, eletrônico. Daí pra frente começa-se a falar de internet — começa-se a falar na internet.

A rede não criou a roda ou a roca do DIY. Sequer as potencializou. A internet ofereceu possibilidades. Abre-se um rizoma para o punk. Para ser punk, não precisa ser punk. Se Heidegger vivesse, diria: a essência do punk, não é o punk. Fazer por conta própria nada tem a ver com niilismo ou negação ao sistema. As jaquetas fedorentas dos Pistols ainda precisavam da cena proletária, aquela com resquício na mulher trabalhando 18h por dia numa grande tecelã. A única indústria contra a qual se opõe a essência punk, isto é, o DIY, é a indústria cultural. Entenda-se ela como algo bem maior que uma fábrica da Coca Cola com seus publicitários e CEOs meio homens meio suínos.

Indústria cultural, em suma, é algo que nunca sai de moda e nunca sai da moda. Se antes da web ela tinha um poder televisivo e global, agora anda penando para surtir os mesmos efeitos de antes. Como adversário, ele o espírito punk, a essência do faça-você-mesmo, que pelos becos da rede encontrou em nichos e pequenos grupos seus fiéis escudeitos. Em frente ao pc pode-se aprender a pilotar um avião ou a fazer coisas mais nobres.

Ser punk nos novos tempos significa:

Fazer camisetas, ou tê-las sempre personalizadas:








Ter blog ou qualquer espaço para se expressar verbalmente: twitter, foruns, wiki variáveis.

Fazer música lo-fi e usar uma tecnologia tão fácil quanto e muito mais avançada para divulga-la: myspace, purevolume, trama.

Recortar, colar e dobrar muito mais que roupa ou papel: Girl Talk e Kutiman.



Ouvir Ramones na propaganda da Coca e The Clash em propaganda de telefonia:



terça-feira, 17 de março de 2009

Propriedade

Aqui vou eu, meu primeiro post aqui no Sujeitos Predicados. O mesmo já postado no meu blog, deixarei até o mesmo título.


Finalmente eles conseguiram. Depois de muita briga e alguma, porém pouca, divulgação da mídia, a comunidade “Discografias” do orkut foi fechada. A comunidade disponibilizava links de álbuns completos para downloads.

Após muita pressão e ameaças da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música) – entidade formada pelas grandes gravadoras, estúdios de cinema entre outros – a comunidade chegou ao seu fim no dia 15 de março.

Segundo a APCM, a comunidade violava direitos autorais ao disponibilizar gratuitamente os links. No texto de despedida, o dono na comunidade diz que “Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros”. O debate parece interminável.

De um lado temos as gravadoras, seus lucros menores, seus preços cada vez maiores e alegações de propriedade intelectual. Parece que o modo encontrado para fugir da crise pela qual estão passando nos últimos anos tem sido aumentar cada vez mais os preços de CDs e DVDs e assim tentar, de alguma maneira, compensar os lucros cada vez menores.

Do outro lado temos as pessoas, sim, pessoas que se recusam a pagar 40 reais por um CD e por isso acabam por recorrer à internet e materiais disponibilizados “ilegalmente”.

Que propriedade intelectual é esta que para se ouvir um punhado de músicas, tomando o preço de um CD como 40 reais, o cidadão precisa desembolsar aproximadamente 10% de um salário mínimo? Que propriedade é esta que o verdadeiro dono, o artista, não tem liberdade caso queira disponibilizar gratuitamente, já que quem comanda a distribuição e decide os preços são as gravadoras? E mais, que intelectualidade é esta que parece cada vez mais distante e inacessível a quem ela realmente deveria chegar?

terça-feira, 10 de março de 2009

World Naked Bike Ride

Primeiro post do blog. Grande responsabilidade.

O World Naked Bike Ride (Pedalada Pelada Mundial, numa tradução bem meia-boca) é um evento mundial que ocorre em mais de 30 cidades e envolve milhares de indivíduos, que busca a reocupação do espaço urbano pelas pessoas e a humanização das relações. Também é um protesto contra o consumismo desenfrado e a dependencia de combustíveis fósseis, a espetacularização do nu pela mídia e pela propaganda, o modelo de beleza vendido hoje em dia, o marasmo e zumbitismo nas relações sociais. Também é contra o uso do automóvel como meio de tranporte, em detrimento de veículos ecologica e socialmente sustentáveis, como a bicicleta e o transporte público.

Pode parecer que são muitos objetivos, e são mesmo. Por ser um movimento horizontal auto-organizado, sem líderes ou estatutos, cada um que aparece no evento aparece pelo motivo que acredita. E o pior é que dá certo. Ok, mas porque raios alguém ficaria nu em público que não fosse só pra chamar atenção? Bem, a WNBR prega uma nudez não-sexualizada e não-obscena, que busca lembrar de alguns princípios fundamentais: uma vida saudável com - e não contra - o meio ambiente, respeito à beleza natural e diversidade dos corpos humanos, e o estabelecimento de uma imagem positiva de si mesmo. Pode ter certeza que ninguém que vai lá tem um corpo perfeito, e ninguém dá a mínima pra isso. E se você ainda acha que isso é uma pouca-vergonha, que vão ter várias criancinhas e vovós escandalizadas em ver uma bunda, por favor, apareça por lá e observe. Todo mundo acha divertidíssimo, até o Kassab!

É o segundo ano que a cidade de São Paulo participa do evento. Se você quiser participar, é só aparecer na praça do ciclista, sábado agora (12/3/9), ao meio-dia. A praça do ciclista fica na Paulista do lado do metrô consolação. A nudez não é obrigatória, e você pode alugar bicicletas ali do lado.

Eu vou, vai ser divertido.

Aos leitores

(Favor confirmar sua existência)


Como um dos primeiros colaboradores a colocar algum texto nesse blog, pretendo expressar o que espero deste novo projeto (falando assim até parece algo realmente sério...E não é?).

Espero que, aos poucos, os colaboradores desta página criarão um espaço comum de discurso. Penso que as divagações descompromissadas, com o tempo, seguirão para a tentativa de construção de uma “consciência coletiva”. Esses colaboradores, colegas de classe (ou seriam amigos de classe?), se conhecerão ainda mais e, como uma natural conseqüência, os temas fluirão com maior naturalidade.

Mas ao contrario do que possa parecer, não espero e nem desejo o consenso. Acredito na disposição de discordarmos. O ponto comum de nossos textos estará nos temas que pretendemos tratar, cultura geral, política e mídia, e não necessariamente no campo das opiniões.

E quem somos nós pra palpitar? Metermos o bedelho? Sermos enxeridos? Somos estudantes de tal ‘arte’. Isso legitima nossas palpitações? Talvez, não. Mas uma vez que pretendemos seguir palpitando pelos próximos anos, eis aqui um bom lugar para nos encontrarmos.


E neste blog caberão resenhas, crônicas ou poesias? Não sei. Como pode-se perceber, esta é uma obra coletiva ainda em construção.
Sejamos bem-vindos.