Um monte de sujeitos, com um monte de ideias, botando a boca no mundo e sendo seus próprios predicados.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Primeiro Ato - A Greve


"Isso daí não é uma Universidade! É uma balbúrdia!"

Bal.búr.dia sf 1. Grande desordem 2. Gritaria, confusão

Cena 1, vista do helicóptero: policiais, enfileirados, bloqueiam a passagem da rua da Reitoria. Ao verem a aproximação de manifestantes, soltam gás lacrimogênio - bombas de efeito moral.

Cena 2: o motorista do trio-elétrico do Sintusp, se é que assim pode ser dito, é puxado para fora da cabine pelos policiais. À força.


"Vocês vão pra cima da policia e vão levar pau mesmo!"

Le.var pau v 1. Ser reprovado 2.Ser agredido 3.Se sair mal em alguma situação, ter problemas, se dar mal

Cena 3: vários estudantes passam o último mês recebendo panfletos sobre Univesp, são convocados para assembléias, ouvem músicas vindas do Sintusp, discutem em grupos de e-mail, não discutem em horas livres, decidem falar sobre o JUCA (PM no alojas?!) a falar da greve. Não comem no bandejão, fazem exercício caminhando o caminho antes feito pelo circular, não conseguem solucionar problemas na Graduação. Têm aulas normalmente, provas adiadas, trabalhos por fazer. Vão para o JUCA e ouvem das bocas alheias: "para um pouquinho, descansa um pouquinho, a USP só entra em greve", ou algo do gênero.


"Vão sentar e discutir com o governador - cara a cara - eu tenho certeza que ele vai escutar..."

Cena 4: os representantes discentes são impedidos de participar da reunião que sempre participam com orgãos como a Reitoria. Alguns decidem invadir o prédio. Quebram portas, impedem a saída dos funcionários. Funcionários e professores discordam da ação dos alunos. Os próprios alunos discordam da ação de alguns deles. O Movimento Estudantil se vê dividido, fragmentado, perdido. Massa de manobra? Não, queremos o fim da Univesp! Queremos o aumento do repasse de verbas para as universidades estaduais - mais: queremos um aumento de verbas para a educação como um todo! Queremos diretas para reitor, somos contra a atual reforma do estatuto da USP, queremos uma auditoria das fundações - com acompanhamento de estudantes e funcionários! Queremos um aumento do valor das bolsas de permanência estudantil!

Cena 5: A Polícia Militar entra no campus para garantir que uma liminar seja cumprida. O direito de ir e vir. Queremos a PM fora do campus!

Cena 6: Em Assembleia feita nesta segunda-feira, dia 08 de junho, a maioria decide que a ECA não entrará em greve. As artes votam pelo contrário. Estão em greve.


"Comunicação: vocês se comunicam?"

Quem se comunica aqui se nem os alunos de uma Escola conseguem decidir por um acordo de adesão ou não da greve? Se nem os ecanos conseguem entrar em um consenso para os termos básicos, se quando se aprova algo, os insatisfeitos passam a ditar suas próprias regras?

Regras? Não há regras. Somos tão democráticos que todos têm direito a fala. Direito a ser ouvido? Espera aí. Você já está pedindo demais! Essa é outra história. Mais complicada e certamente difícil de se alcançar.

Discursos, falas intermináveis, redundantes. Dizem a mesma coisa. Discordam. Discordam, não falam. Fingem que falam. Falei? Falei nada, fingi que falei e você fingiu que leu para depois discordar.

Discorde. É do seu direito.

Só não me venha chamar a polícia porque senão isso daqui vira uma balbúrdia!

Um comentário:

Ana Paula Saltão disse...

Um convite à democracia? Um convite a concordar com tudo o que falam.

Nada mais.