Um monte de sujeitos, com um monte de ideias, botando a boca no mundo e sendo seus próprios predicados.

terça-feira, 7 de abril de 2009

Jornalismo no Mercadão

Sol no alto do céu. O domingo deixa as ruas do centro mais vazias, mas ainda movimentadas. É domingo de ramos mesmo na capital paulista, algo que surpreende quem é do interior, achando que a cidade não tem essas tradições. É dia de visitar o Mercado Municipal e encontrar não só o melhor sanduíche de mortadela da cidade, mas também alguns dos maiores nomes do jornalismo brasileiro.

Flávio Carrança, Audálio Dantas, José Hamilton Ribeiro, Ricardo Kotcho, Iva Oliveira e Lucius de Mello: todos juntos para mostrar seu trabalho e discutir sobre a profissão de jornalista. No público, rostos jovens, bloquinhos e canetas em mãos. Estudantes em busca de um pouco de conhecimento de pessoas com grande vivência.

E o que podemos dizer sobre o jornalismo? "Jornalismo é contar uma história de um jeito que as pessoas queiram saber. É a melhor profissão do mundo", decretou Ricardo Kotscho.

José Hamilton Ribeiro chegou quando todos já estavam à mesa. Lucius de Mello falava, mas teve que parar: uma onda de aplausos pairou a sala para saudar o jornalista, que também falou sobre a profissão. Ele citou os jornalistas franceses: "jornalismo é a melhor profissão do mundo para se sair a tempo". Também citou um jornalista italiano, perguntado sobre a profissão: "Jornalismo é bom sim. É até melhor do que trabalhar".

Ninguém disse que é uma profissão fácil. "Jornalismo exige muito esforço para quem quer fazer direito. Exige compromissos daquilo que se ouve com aquilo que se escreve", descreveu, com precisão, Audálio Dantas.

A importância do jornalismo vai além do simples relato da vida. Ele faz parte da memória e da história de uma sociedade. O jornalista e agora escritor ainda citou Gabriel Garcia Marquez: "a vida não é o que você viveu, mas aquilo que você se recorda".

Características de um bom jornalista envolvem curiosidade. "Jornalistas são seres que perguntam", citou Lucius de Mello. Ele emendou com uma citação de Clarice Lispector, quando foi perguntada quem era ela: "Eu sou uma pergunta", ela respondeu.

Os problemas que são enfrentados pela profissão também foram tocados. Como fazer um bom jornalismo? Apuração e trabalho de campo foram citados. "Ainda sou jornalista de rua, e me orgulho disso", disse Iva Oliveira.

Lucius de Mello fez uma nova citação, tentando mostrar a gravidade da stuação atual: "o ficcionista fala mais a verdade do que o jornalista, como Saramago já disse".

Assessoria e jornalismo são parte da mesma profissão? Para Kotscho, são. Um assessor, para ele, continua sendo jornalista, mas exercendo uma outra função. "É a pessoa que faz a função".

Mas o jornalista fez uma ressalva sobre o assunto. Para ele, não é possível um jornalista trabalhar em uma redação e como assessor de imprensa ao mesmo tempo. Enquanto se exerce uma função, não se pode exercer a outra.

A formação dos jornalistas foi outro assunto citado. Uma aluna da ECA (ei, companheira) fez críticas duras ao curso, dizendo que deixa a desejar e não é estimulante. Os debatedores citaram suas experiências profissionais como parte fundamental no processo de aprendizado.

"A escola não faz o jornalista", citou Kotscho. O jornalista contou que saiu da ECA na primeira turma e quando voltou, já como professor, encontrou uma situação parecida com a que tinha deixado.

É importante dizer, porém, que a ECA é uma escola de referência. A estrutura é suficiente, inclusive quanto a equipamentos. Há excelentes professores e outros de qualidade duvidosa. O curso, em si, tem sido uma boa experiência (acho que falo por todos os autores aqui).

A Internet foi outro assunto da conversa. "O jornalismo está em um momento de transição, depois do petardo que tomou da Internet", contou José Hamiltom Ribeiro. Os outros debatedores falaram sobre a importância da Internet como meio de comunicação.

Para terminar o encontro, um contador de histórias, com chapéu e sotaque do interior, alegrou a platéia com "causos quase reais", como ele mesmo disse.

O evento terminou com champanhe, e já com o mercadão de portas fechadas ao público. Restava o domingo de sol e uma tarde pela frente.

2 comentários:

Alice Agnelli disse...

acho que todos nós somos uma pergunta, como se definiu clarice.

ou melhor, várias perguntas.

(mas aí já é pretensão demais. ah, mas a gente também é bem pretensioso, às vezes... hehe)

Felipe M. Ferreira disse...

"É domingo de ramos mesmo na capital paulista."

O Mercadão também é de Ramos!