Um monte de sujeitos, com um monte de ideias, botando a boca no mundo e sendo seus próprios predicados.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

Democratização Informacional (?)

"Qualquer pessoa pode assistir a um vídeo no YouTube". Partindo deste pressuposto, o fenômeno do compartilhamento de arquivos em vídeo fez o que muitos chamaram de 'revolução': estava aberto um canal nunca antes visto (ou, pelo menos, facilmente utilizável) de divulgação dos mais diversos tipos de produções - desde vídeos musicais, trailers ou qualquer coisa que se possa gravar. Era a hora de publicar aquela sua coisa tosca guardada há séculos e feita em uma tarde de tédio e transformá-la em hit da web. Ou, de dar um upload em seus esquetes cômicos e fazer do seu espetáculo o canal de humor mais visto do site.

Com propósito diferente, mas resultado parecido, já havia online o site Myspace. Apesar de ter como objetivo a criação de uma rede de amigos, através da qual poderiam-se trocar imagens ou mensagens, foi com a música que ele se destacou. Alavancando muitas bandas, o site tornou-se meio de divulgação para conjuntos iniciantes muitos dos quais, posteriormente, também vieram a ser fenômenos.

Vídeo e músicas. Duas plataformas que encontraram nestes sites o acolhimento digno de uma mãe. Um, permite você expor seus vídeos. Outro, suas músicas, oras. E onde ficam os textos? Nos blogs?

Evidente. Se disserem que, inevitavelmente, as palavras são a base de qualquer meio, a possibilidade de postar suas palavras livrementes em blogs seriam a base para todo ideário de compartilhamento de informação. Mas e os livros?

Eis que surgiram os tais de e-books. E bibliotecas virtuais, como esta, esta ou esta. Mas não somos todos Machado para cairmos nas graças de uma biblioteca. Pelo menos, ainda não. Aliás, mesmos autores comparáveis (se é que isso pode ser dito) sentem-se sufocados pelo mercado editorial, que vem se estreitando - e não por menos, eles passam a buscar outros meios de divulgação de seu material.

Senhoras e senhores, bem-vindos ao NeoReader, onde você será recebido pela frase um tanto quanto suculenta - e até megalomaníaca, porque todos no fundo no fundo o somos - "publique seus arquivos e acesse de qualquer lugar do mundo". Qualquer lugar do mundo. Ele disse qualquer.

Mais do que uma biblioteca, ele aparece para preencher a lacuna entre o público e o não-publicado - ou o publicado em menores dimensões. Revistas, folhetos, convites, manuais, guias ortográficos com as novas regras gramaticais, apostilas (inclusive de latim), teses, crônicas.

Enfim, em suas próprias palavras, o site seria "Um portal para publicação de arquivos que tem o objetivo de democratizar a informação na internet de uma forma inovadora, sempre priorizando a qualidade de conteúdo. Você pode fazer upload dos seus conteúdos em Word, Excell, Powerpoint, PDF." E então que ele me pinica mais ainda (porque já me pinicava ao dizer que o acesso era feito em "qualquer lugar do mundo").

Democratização da informação. Esse é o conceito atribuído, principalmente, ao advento da Internet e à alta capacidade de imersão deste meio na vida de qualquer mero mortal. Ok. Temos o Youtube "democratizando" os vídeos. O Myspace, a música. E o NewReader, os livros.

Mas será mesmo? A partir do momento em que se está frente a um computador com conexão à rede, temos um mundo de possibilidades. Justo. Mas quantos são aqueles que conseguem adentrá-lo?

Quantos conseguem ler um texto e compreendê-lo? Quantos têm computador em casa e mais - com acesso à Internet (sendo que isso apenas não basta: há de ser banda larga)?

Será mesmo que um site pode servir-se do termo "democratização"? Será que apenas com isso ele faz seu papel democrático?

Só para se ter uma idéia, dados de 2005 do IBGE (ok, desatualizados, se formos comparar à velocidade que tantos dizem das mudanças de hoje em dia) mostram que a cidade de maior acesso à Internet, Curitiba, apresenta 34,9% de sua população conectada. Em São Paulo diminuía-se apenas 1 ponto percentual: 33,9%. Quer saber no Alagoas? 7,6% da população. Seguido por Maranhão (7,7%), Piauí (10,4%), Amazonas (10,5%) e Pará (10,9%).

Quantos alagoanos, maranhenses, piauienses, amazonenses e paraenses será que postam vídeos no Youtube, tocam para o Myspace e lêem livros no NewReader?

Quantos deles lerão isto daqui?

Um comentário:

Felipe M. Ferreira disse...

Olhe, Alice, acredito que o que você entende por democratização ou democracia não é o que se aplica à web. A democracia é um conceito bem fluído, mas o padrão decisório e participativo é inerente a ele. E na rede é justamente isso que ocorre (e o que você mostrou): as possibilidades grandiosas de que cada um tenha sua própria voz, fale o que quiser, publique o que bem entender, escolha o que tiver vontade. Cria-se uma nova opinião pública e a própria esfera pública, onde outrora um falava e outros escutavam, tem seus padrões alterados. Isto é democracia em essência, e a internet permite tudo isso do preceito básico, o grego, lá de trás: todos inserido na web podem participar.
Infelizmente, não é a democracia que gostaríamos de ver, em que a frase "todos inseridos na web" seria substituída por "todos estão inseridos na web". Mas já demos grandes passos, pois há comunidades menos favorecidas que estão conectadas com o mundo pela rede. E boto muita fé que essa curva continuará acima e avante.

Muito bacana o NeoReader. Fica a minhas dica: http://mojobooks.virgula.uol.com.br/
Faça de um disco um livro. Se forem bons (o disco e o livro), é publicado!