Um monte de sujeitos, com um monte de ideias, botando a boca no mundo e sendo seus próprios predicados.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Vamos brincar?

Tinha chamado, no texto abaixo, tudo o que aconteceu em referência à greve de "Ato" e dividido em cenas porque desde o princípio considero todas as posições excessivamente teatrais.

Não me enganei. Mais: tive a certeza do meu achismo com a comprovação de Eugenio Bucci, em sala, de que "não são idéias que mobilizam a greve na USP, e sim a imagem da polícia militar com as bombas no campus". É o espetáculo. Mais puro exemplo de espetáculo. A greve tomou as proporções atuais após a inadmissível cena do último dia 09. Construída inaceitavelmente por aquela que diz representar funcionários, docentes e alunos da comunidade: a reitora.

Se antes ideologias moviam os estudantes em prol de uma real melhoria em relação não só ao ensino público, mas à sociedade; agora, o que vejo são forças divididas, cegas e ultrapassadas. O que vejo é apenas a falsa tentativa de participação para mostrar que se está fazendo política. Ou melhor, que se está tentando fazer alguma coisa. Reitero: falsa tentativa.

A maior prova de que o importante é, simplesmente, "agir" está nos discursos em que se consideram "omissos" aqueles que mantiveram sua rotina (apesar de estarem igualmente pensando sobre a greve em sua maior parte do tempo). Parece que temos sempre que nos mostrar atentos e disponíveis as mais diversas causas - não importa a reflexão, importa fazer. Importa mostrar que fez. Absurdo é se manter, aparentemente, quieto. Isso não é só agora, não. É com tudo. E reclamam do tal "sistema", mas jogam exatamente o jogo dele: "exigir, não pensar, fazer, fazer, fazer, não importa o quê, mas faça! E seja feliz, óbvio. Sempre feliz!".

O problema é que com essa ânsia do agir, mal se pensa. Quero dizer, claro que se pensa - mas não se discute. E não digo tentar promover diálogo em classes, grupos de e-mail ou afim, digo dar importância àqueles que até agora a única coisa que fizeram foi "discutir".

Alguns dizem "sim, temos que dialogar", e são estes mesmos que se mostram impacientes quando são contra-argumentados. Ninguém gosta de perder - muito menos no que se trata de opiniões - mas se for para promover o diálogo o mínimo que tem que ser feito é ouvir.

Sem alguém que discorde não há discussão. O que vejo é que o diálogo que buscam apenas é válido quando feito por auto-afirmações. Argumentos contrários levam à impaciência, à irritação. E se assim são levados, é porque não podem ser melhor rebatidos, é porque está se vendo uma perda no fim do jogo.

De teatro, isso daqui passou para um jogo. As regras não são claras - e muito menos seria um risco dizer que elas existem. O mínimo necessário é o respeito.

Se entramos aqui para discutir, que discutamos e sejamos ouvidos. Se é para brincar, então vamos lá. De quem é a vez?

terça-feira, 9 de junho de 2009

Primeiro Ato - A Greve


"Isso daí não é uma Universidade! É uma balbúrdia!"

Bal.búr.dia sf 1. Grande desordem 2. Gritaria, confusão

Cena 1, vista do helicóptero: policiais, enfileirados, bloqueiam a passagem da rua da Reitoria. Ao verem a aproximação de manifestantes, soltam gás lacrimogênio - bombas de efeito moral.

Cena 2: o motorista do trio-elétrico do Sintusp, se é que assim pode ser dito, é puxado para fora da cabine pelos policiais. À força.


"Vocês vão pra cima da policia e vão levar pau mesmo!"

Le.var pau v 1. Ser reprovado 2.Ser agredido 3.Se sair mal em alguma situação, ter problemas, se dar mal

Cena 3: vários estudantes passam o último mês recebendo panfletos sobre Univesp, são convocados para assembléias, ouvem músicas vindas do Sintusp, discutem em grupos de e-mail, não discutem em horas livres, decidem falar sobre o JUCA (PM no alojas?!) a falar da greve. Não comem no bandejão, fazem exercício caminhando o caminho antes feito pelo circular, não conseguem solucionar problemas na Graduação. Têm aulas normalmente, provas adiadas, trabalhos por fazer. Vão para o JUCA e ouvem das bocas alheias: "para um pouquinho, descansa um pouquinho, a USP só entra em greve", ou algo do gênero.


"Vão sentar e discutir com o governador - cara a cara - eu tenho certeza que ele vai escutar..."

Cena 4: os representantes discentes são impedidos de participar da reunião que sempre participam com orgãos como a Reitoria. Alguns decidem invadir o prédio. Quebram portas, impedem a saída dos funcionários. Funcionários e professores discordam da ação dos alunos. Os próprios alunos discordam da ação de alguns deles. O Movimento Estudantil se vê dividido, fragmentado, perdido. Massa de manobra? Não, queremos o fim da Univesp! Queremos o aumento do repasse de verbas para as universidades estaduais - mais: queremos um aumento de verbas para a educação como um todo! Queremos diretas para reitor, somos contra a atual reforma do estatuto da USP, queremos uma auditoria das fundações - com acompanhamento de estudantes e funcionários! Queremos um aumento do valor das bolsas de permanência estudantil!

Cena 5: A Polícia Militar entra no campus para garantir que uma liminar seja cumprida. O direito de ir e vir. Queremos a PM fora do campus!

Cena 6: Em Assembleia feita nesta segunda-feira, dia 08 de junho, a maioria decide que a ECA não entrará em greve. As artes votam pelo contrário. Estão em greve.


"Comunicação: vocês se comunicam?"

Quem se comunica aqui se nem os alunos de uma Escola conseguem decidir por um acordo de adesão ou não da greve? Se nem os ecanos conseguem entrar em um consenso para os termos básicos, se quando se aprova algo, os insatisfeitos passam a ditar suas próprias regras?

Regras? Não há regras. Somos tão democráticos que todos têm direito a fala. Direito a ser ouvido? Espera aí. Você já está pedindo demais! Essa é outra história. Mais complicada e certamente difícil de se alcançar.

Discursos, falas intermináveis, redundantes. Dizem a mesma coisa. Discordam. Discordam, não falam. Fingem que falam. Falei? Falei nada, fingi que falei e você fingiu que leu para depois discordar.

Discorde. É do seu direito.

Só não me venha chamar a polícia porque senão isso daqui vira uma balbúrdia!

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Sobre outras posturas

Não acredito que para ser um aluno de universidade pública eu deva participar de assembleias de um movimento estudantil fechado (como foi provado hoje, quando uma bixete tentou colocar um diferente método de votação e não foi bem recebida, visto que o novo método contrariava algumas das convicções dos presentes) que não valoriza o debate, e que após uma votação, democrática, não aceita o resultado, já que os demais votantes não são frenquentadores da mesma assembleia que é apenas receptiva aos que compartilham um certo ponto de vista e uma visão política.

Acredito que eu, que procurei de muitas formas me informar sobre todos assuntos em debate, e vi diversos pontos de vista diferentes expostos, estou informado o suficiente para me colocar criticamente adiante de um assunto desta magnitude. Não acredito que o que me define como capaz ou não de assumir tal posição seja a minha presença ou a falta dela nos ditos debates.

O debate, de fato, ocorre em um espaço e acompanhado de pessoas que ouvem e refletem sobre o assunto em pauta, deixado serem tocadas por pontos e pensamentos diferentes dos seus, nestes lugares, sim, debato com muito gosto. De outros prefiro me abster e isso não me faz menos estudante de uma Universidade, ou crítico do que ninguém.



Ps: Encaro este blog como um espaço de debate legítimo, por isso após ler o texto anterior me senti compelido a expor o meu ponto de vista neste breve post, visto que era dirigido aos outros Sujeitos que aqui predicam.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Sobre posturas. (ou nota aos colegas)

Tive muitas ótimas aulas na última semana. Nenhuma na sala de aula.

Quer saber uma das lições?
Eu sou estudante não de uma universidade particular, mas de uma universidade pública. Quem paga minha mensalidade não é meu pai, mas todos os pais e mães e filhos brasileiros (ou paulistas). Assim sendo, eu não tenho a responsabilidade apenas com o meu pai ou comigo mesma, de formar-me, pegar um diploma, fazer carreira, grana, sucesso por aí. Eu tenho responsabilidades com todos os pais e mães e filhos que me pagam a universidade.

E eu tenho todo o direito de estudar e de ter minhas aulas com qualidade e segurança. Assim como os próximos que entrarem aqui também o terão. Mas é sim responsabilidade minha, agora, garantir que esses próximos tenham tudo a que eu tenho direito hoje, e não igual ao que eu tenho, mas melhor.

Aprendi (ou compreendi), entre muitas aulas geladas esta semana, como portar-me como aluna de universidade pública. E portar-me como aluna de universidade pública não significa necessariamente aderir sempre às greves ou concordar com tudo do movimento estudantil. Significa interessar-me e comprometer-me não só com o meu futuro, mas também com a sociedade e com o futuro da universidade. Porque eu, assim como todos os outros alunos, passarei e irei embora, mas as ações que tomamos enquanto estamos aqui modificam o que será esta universidade amanhã.

Não pretendo julgar quaisquer atos/pessoas. Mas esta é a minha postura, e agirei de acordo com ela.

domingo, 17 de maio de 2009

O cordel da hipocrisia

Era manhã de domingo na avenida São João e, frente ao palco da Virada Cultural, milhares de pessoas se espremiam em estado hobbesiano, na luta por um melhor lugar para assistir ao show do Cordel do Fogo Encantado, que começaria em uma hora. Nesse tempo a multidão se espremeu mais e mais. Ao custo do desencontro com uma amiga e muitas cotoveladas, consegui um considerável bom lugar.
O show ia pela terceira ou quarta música, a multidão pulava e cantava em uma euforia crescente. Quatro amigos, à minha frente, porém, não se sentiam confortáveis. O motivo? Ao lado deles estava um homem, provavelmente morador de rua, negro, descalço, sem camisa, de ressaca, dançando eufórico junto com a multidão. Esbarrava ocasionalmente nos amigos.
Ora, era uma multidão se acotovelando, havia contato corporal com as pessoas em volta o tempo todo (e bota contato nisso!). Mas os amigos resolveram pedir ajuda, afinal jovens da classe média têm o direito de assistir a um show da Virada sem preocupar-se com pessoas indesejáveis por perto, não?
Chamaram uma mulher da organização que estava na área reservada na frente do palco, reclamaram do homem. Ela o viu, disse aos amigos que ele não estava fazendo nada de mais ali. Os amigos insistiram, insistiram, e a mulher por fim chamou dois PMs.
Os PMs, por entre a multidão, gritaram ao homem. Este, pensando que o problema era ele se encontrar sem camisa, vestiu-a. Ora, o problema não era a camisa, mas sua presença ali! Que direito tinha ele de assistir a um show aberto no centro de São Paulo, incomodando, com sua presença, os jovens de classe média que eram a maioria daquela multidão? Que direito tem ele à cultura, afinal?
Os PMs disseram aos amigos, não tinham nada que fazer ali, e se foram. O homem logo mais se foi também, sentindo o peso dos olhares de desprezo dos que estavam em volta.
Os amigos, finalmente confortáveis, entregaram-se ao show. Cantavam, com euforia e emoção, com seus descolados óculos escuros, a música cuja letra falava do dia a dia de um cortador de cana. Cantavam com euforia e emoção, como se conhecessem na pele o duro dia a dia de um dos mais sacrificados trabalhadores de nossa sociedade...

terça-feira, 12 de maio de 2009

Cotas raciais

No último domingo, o programa Canal Livre da Band, promoveu uma discussão sobre “cotas raciais nas universidades”. Como convidados foram o sociólogo Demétrio Magnoli e o integrante da ONG Educafro Frei Davi. O defensor das faladas cotas era o Frei. (Quase que inocentemente cometi o erro de dizer que o defensor era obviamente o Frei, devido à sua participação na ONG ou algo do tipo, porém após um breve segundo de pensamento, o que se fez óbvio foi que não é porque uma ONG apóia movimentos negros em busca de igualdade, necessariamente apoiaria uma iniciativa como esta das cotas.)

O Frei utilizava como justificativa para a adoção de cotas raciais, uma certa indenização pelos anos e anos em que os negros foram submetidos à escravidão no Brasil, que após abolida, não foram de nenhuma forma indenizados e nem foram alvo de políticas de inserção dos mesmos na sociedade. É difícil discordar que em parte ele está certo, obviamente, se uma política de adaptação houvesse sido adotada após os anos de escravidão, e os negros tivessem recebido ajuda para conseguir empregos e terras para trabalho, certamente a situação social brasileira seria, e em muito, diferente da lamentável na qual nos encontramos.

No entanto, nos vemos em situação difícil, como dizer aos jovens garotos, que após uma análise, são considerados não-negros, portanto não beneficiados por um sistema de cotas racista – uma vez que é baseado em raças, é racista. Quando questionado sobre como este sistema é social, uma vez que crianças pobres não-negras não seriam beneficiadas, enquanto que um jovem negro de uma família que tem uma renda mensal de 20 salários mínimos seria, sim, beneficiado, Frei parecia sempre recorrer aos anos e anos de escravidão e à sociedade desigual na qual vivemos.

Acredito que seja no mínimo questionável esta atitude de, cada vez mais, inserir na mente de jovens que existe tal distinção entre as raças e beneficiar apenas uma em detrimento da outra, sendo que as duas necessitam da mesma ajuda, caso pensemos socialmente a questão.

O sociólogo comentou a lei de cotas existente na Nigéria. A Nigéria é formada por inúmeras etnias, as cotas são dadas, nos diferentes estados, à etnia com maior população no local. Imagine, com isso a maior parte da população passa a apoiar o partido político que tomou tal iniciativa, com a maior parte da população de cada estado, já sabemos o que acontece em uma eleição, certamente um efeito nunca imaginado pelos políticos.

Ironicamente, ao ser entrevistado, o Ministro da Secretaria da Igualdade Racial, Edson Santos, ex-deputado pelo PT do Rio de Janeiro, disse que as cotas raciais são sociais, visto que o método seria o seguinte. Metade das vagas seria separada para alunos de colégios públicos (certamente esta é a parte social), dentro desta metade fazemos a seguinte análise, caso 70% da população local seja negra, 70% desta metade de vagas será exclusivamente destinada a negros. Não importa se os alunos negros e não-negros se encontram na mesma situação social, se passam pelas mesmas necessidades, se os pais de ambas famílias sofrem do mesmo modo para botar comida na mesa. É inacreditável e, certamente inesperada, a semelhança com o método anteriormente comentado, não? E sim, escrevi corretamente, a secretaria é de IGUALDADE racial.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Peixes Pássaros Pessoas




Sempre que leio a crítica de um novo cd ou de um artista que desponta no cenário musical, fico com a ligeira impressão de que o autor do texto preocupa-se exageradamente em encontrar defeitos e imperfeições no trabalho analisado. Sem falar no apego ao léxico técnico que impossibilita a compreensão do ouvinte leigo e parece simplificar a discussão da música, que apesar de ter sua técnica, é uma arte e, portanto, abarca questões subjetivas imensuráveis. Prefiro entender o crítico de música como o sujeito que busca novas referências e que possa dirigir nossa atenção aos detalhes que poderiam nos passar desapercebidos.

Esse texto não pretende ser uma crítica de música, mas é que hoje escutei o mais recente álbum da cantora Mariana Aydar,Peixes Pássaros Pessoas,, e como há tempos não passo por aqui, decidi escrever sobre minhas primeiras impressões.

A última década tem sido extremamente generosa pela aparição de novas e boas cantoras nacionais dentre as quais podemos citar Teresa Cristina, Maria Rita, Mônica Salmaso, Roberta Sá, Céu, Marina de la Riva e Ana Cañas. Mariana Aydar foi, então, uma das que com mais intensidade utilizou-se da sonoridade do samba e o utilizou sob uma roupagem nova. De forma muito segura Mariana apresentava em seu primeiro trabalho, Kavita 1 (2006), um samba de certa forma despreocupado e único por ser cheio de um sincretismo sonoro.

Em seu segundo cd um cavaco, o violão marcante e a flauta logo na primeira canção parecem tirar a dúvida sobre a permanência do samba, ou qualquer uma de suas variações, no trabalho da paulista. O ritmo logo dá espaço às baladas nas seguintes faixas do álbum. O xote, também explorado no cd anterior, encontra lugar em "Bandas de lá" e na alegre "Ta?". "Palavras não falam" acrescenta um novo toque caribenho. Mariana que já havia feito regravações de João Nogueira, Chico César, João Donato e uma inimaginável versão de "Deixe o verão", dos Los Hermanos, agora faz sua leitura de "Peixes", orignal da gaúcha Darma Lóvers.

A produção do disco segue a alta competência do cd anterior, com ricos arranjos e uma variação de instrumentos e timbres invejável. E pra voltar a falar de samba, o novo álbum conta com samba-canção, samba-enredo e um partido alto com a participação de Zeca Pagodinho. A voz é a mesma afinação que antes, mas ainda mais segura e consciente.

Destaques:

Palavras não falam

Manhã azul

Poderoso rei

Tudo que trago no bolso